Um novo modo de pensar empresa.

Assim conclui Muhammad Yunus. Para o criador do Grameen Bank, criador da mais bem-sucedida experiência de microcrédito no mundo e de inúmeras “empresas sociais”, surge um novo modelo de empresa que faz oposição à teoria econômica dominante, segundo a qual o único tipo de negócio existente é o que maximiza os lucros de seus donos. Para ele, seres humanos querem ser úteis e suas empresas devem beneficiar pessoas, sem fazer filantropia, sem ter prejuízos, baixa produtividade e perdas econômico-financeiras. “Empresas sociais” devem maximizar o impacto social de sua atividade econômica. Yunus está convicto de que os paradigmas da velha economia estão pouco a pouco sendo revistos diante das novas pressões socioambientais do Planeta e que surge um tipo de investidor interessado em produzir um outro tipo de resultado, por meio de empresas que contribuam para o desenvolvimento sustentável e para a erradicação da pobreza. Este conceito se parece muito com a visão latino-americana (países em desenvolvimento) que emprega indiferentemente a terminologia negócio inclusivo ou negócio social.

Para a rede de pesquisadores reunidos na EMES (Emergence of Social Enterprise in Europe) e que sintetiza a abordagem acadêmica predominante na Europa, as empresas sociais (social enterprise) são “organizações com o objetivo explícito de beneficiar a comunidade, iniciadas por um grupo de cidadãos, nas quais o interesse material dos investidores capitalistas é sujeito a limites”, já que o lucro resultante das operações comerciais deve ser reinvestido na própria organização para potencializar o crescimento e o impacto social. Outra premissa deste modelo de empresa é a de que os beneficiários participam da tomada de decisões. Três categorias de atuação das empresas sociais podem se observadas: as de integração ao trabalho; as que produzem produtos e serviços para comunidades de baixa renda; e as que favorecem o desenvolvimento social e econômico local promovendo a participação dos cidadãos e do governo local nas atividades. As empresas sociais possuem a consecução de metas econômicas e sociais com foco na busca de soluções inovadoras para problemas de exclusão social e desemprego. O que distingue as empresas sociais das demais iniciativas comerciais é a intencionalidade da missão empresarial, ou seja, o propósito social e ambiental é absolutamente central àquilo que ela faz e a busca por mudança positiva na sociedade. Empresas sociais têm objetivos sociais primordiais, nas quais a receita gerada é reinvestida principalmente para os propósitos do negócio ou na comunidade, ao invés de serem destinados à necessidade de maximização de lucro dos acionistas e proprietários.

Os norte-americanos, por sua vez, conceituam a empresa social/negócio social como qualquer ação empreendedora de mercado que tenha impacto social com sua ação comercial, vinculada a estratégias da base da pirâmide (BoP). Desde 2008 vigora uma lei que criou uma nova forma jurídica de organização chamada L3C (low-profit, limited liability company), uma empresa híbrida entre sem fins lucrativos (terceiro setor) e uma empresa por lucro. Seria uma empresa limitada designada para atrair investimentos e capital filantrópicos para prover benefício social, sendo seu principal objetivo o fator social e secundariamente a preocupação com o lucro. Outra inovação jurídica norte-americana, esta de 2011, são as benefit corporations, que são criadas para prover um benefício público geral com impacto positivo e material na sociedade e no meio-ambiente.